quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Psicologia das massas no Êxodo

Um texto pode ser interpretado pelos Fatos expressos em seu Conteúdo, pela Ótica do seu Autor ou pela Intenção de seu Inspirador.

Autor nenhum se auto-inspira. Somente quando o seu cérebro primitivo ( que capta uma emoção que transparece no Fato) é ativado por algo que chega ao seu conhecimento é que ele reage pelo ato da escrita.

Êxodo 32

No texto bíblico do Êxodo, em seu capítulo 32, é narrada a crônica do Bezerro de Ouro.

Moisés, o grande legislador hebreu, sobe ao monte, para ter um encontro com Deus, enquanto o povo o aguarda na planície.

Precedentes

O povo Israelita havia praticamente acabado de atravessar o mar, e visto Deus livrá-los dos seus perseguidores egípcios. Em sua memória deveria estar gravada os eventos da noite em que Deus matou os primogênitos de todo o país do Egito. Portanto, havia precedentes espirituais de apoio para crerem em Deus e a Ele deverem fidelidade.

Mas não houve só isto. Houve um compromisso verbal expresso em Êxodo 24:3 :

"Todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos"

Eles não falaram:

Quase todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos;
Todas as palavras que o Senhor tem falado, talvez faremos;
Todas as palavras que o Senhor tem falado, tentaremos fazer;
Todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos se pudermos;


Quando os povos do passado proferiam seus juramentos, eles os cumpriam, sem precisar de documento, assinatura, carimbo ou registro em cartório.

Os fenômenos das massas

1º estágio: Falta de Paciência

"Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte" (Êxodo 32:1)

A Paciência é uma virtude, e exige tenacidade e confiança para a Espera. O povo hebreu, mesmo tendo os precedentes por nós citados, não aguentou esperar. Hoje, este fator está excessivamente pronunciado nas pessoas. Ninguém aguenta esperar nem um minuto que seja. Estamos dominados pelo imediatismo. E aquele povo estava desta forma, ou talvez pior, por estar em meio ao deserto, sem vislumbrar as belas paisagens do Egito, e principalmente da fulgurosa paisagem da terra de Goshen no delta do Nilo.

A falta de paciência com algo que provavelmente ocorreria hora ou outra (a volta de Moisés) se chama Ansiedade.

2º estágio: Intimidar o líder

"o povo ... acercou-se de Arão" (Êxodo 32:1)

Em pelo menos um aspecto o povo fez o correto: foi ao líder. Retirado temporariamente Moisés, o próximo na linha de Autoridade era Arão, seu irmão. Mas quando se vai ao líder, pode-se estar preparado para obedecê-lo, ou para desafiá-lo. Cercar Arão, utilizando-se de várias pessoas, é um claro ato de pressão psicológica.

3º estágio: Introduzir a dúvida

"porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu "(Êxodo 32:1)

Dizer que não sabiam o que era feito de Moisés era apenas um pretexto, uma justificativa, para colocarem em dúvida a liderança de Moisés. Estando ausente, o que significava a sua Autoridade agora ? Esta foi a mesma técnica da serpente no Jardim do Éden, ou seja, introduzir a dúvida. Por isto a fidelidade aos líderes é necessária, pois ela substitui, com eficácia, a ausência física desta Autoridade.

Havia também a confissão de culpa na frase "o homem que nos tirou da terra do Egito". Ora, eles tinham bastante consciência do débito para com Moisés. Ou será que era uma ironia por este tê-los tirado da tal terra onde comiam com relativa fartura (como vão dizer em suas murmurações nos capítulos mais a frente) ?

4º estágio: Querer fazer as coisas do seu jeito

"Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós" (Êxodo 32:1)

Vejam bem, como é que você chega para um líder e dá uma ordem "Levanta-te ...". Isto demonstra a falta de noção de submissão à autoridade. E, em seguida, já vem o Jeito das Massas "faze-nos deuses". Eles definiram o que Arão deveria fazer.

5º estágio: Dar corda para o povo se enforcar e se manter no poder

E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. (Êxodo 32:2)

Uma vez intimidado, Arão não tem outra alternativa a não ser fazer o que a multidão quer, pois fazendo, pelo menos ele ganha tempo, para em um momento posterior poder anular a ação ou punir o povo. Eles precisavam encarar as consequências de seu ato. Se ele negasse, poderia ser morto, e não teria esta chance depois. As vezes o líder precisa ceder, no momento da loucura de seus liderados. Se ele fosse morto, um outro, sem nenhum compromisso com Deus, poderia assumir de vez as massas, e até tirá-los para longe dali.

6º estágio: Dar uma chance de desistência

Amanhã será festa ao Senhor (Êxodo 32:5)

Já devia ser tarde, pois no verso posterior é dito "E no dia seguinte madrugaram". A festa não podia começar naquele mesmo dia, não ? Poderia, mas Arão lhes deu a noite para pensar. Mas a massa de hebreus estava tão ansiosa para pecar, que acordou cedo para fazê-lo.

7º estágio: Tumulto

O povo, para se esbaldar e fazer sua própria vontade, chegou a se desnudar, numa clara intenção de obter o prazer junto ao culto moldado ao desejo de seu coração. Se fosse um real culto a um deus, por que a necessidade de tirar as roupas ? Porque isto a que eles chamaram culto era mais uma festa de exaltação da carne, ou seja, um carnaval.

8º estágio: Punição

Deus providencia a punição dos perversos:

Assim feriu o Senhor o povo, por ter sido feito o bezerro que Arão tinha formado. (Êxodo 32:35)

Conclusão

Assim como acontece nas manifestações públicas, ocorreu no episódio do Bezerro de Ouro (coisa ilícita). As massas começam até com boas intenções. Mas então entra a crença de que a bagunça (Bezerro de Ouro) é mais eficaz. O líder desafiado é o Estado, e a punição é a repressão policial.

Liderança envolve Fé. O líder não tem poder em si. Seu poder está na crença daqueles que se submetem a ele, pois creem que ele vai conduzí-los pelo melhor caminho. E o melhor caminho não é aquele isento de tropeços, mas o que vai produzir resultados eficazes em relação às suas aspirações.