segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tradição Oral, a cultura negra / africana e a Credibilidade

Você ama a Verdade ? "Mas o que é a Verdade ?", perguntavam os gregos. Verdade é, pelo menos, O QUE JÁ ACONTECEU, DO JEITO QUE ACONTECEU, pois não pode ser mais alterado.

Os fatos que já aconteceram

O que aconteceu se convencionou colocar "esticado" no que nós humanos conhecemos por CRONOLOGIA (o tempo da sequência das ações, pois queremos dar a ideia real de tempo, por isto não dissemos "a sequência das ações no tempo", pois o TEMPO realmente não é coisa viva, com existência própria).

A TRADIÇÃO ORAL (narrativas e costumes armazenados na memória de um grupo humano) estabeleceu esta Cronologia principalmente apoiada em LISTAS ou GERAÇÕES humanas.

Aqui cabe um pequeno parêntese, pois temos que especificar a quem pertencem as gerações listadas. Voltemos nossa razão e visão para as ...

Tribos e Clãs

Em primcípio, não havia uma Sociedade, e nem tão pouco o Estado. Existia a FAMÍLIA. Quando se conseguia atingir a convivência de três gerações, tínhamos então uma TRIBO. Quando esta absorvia Agregados de fora das famílias da Tribo, formava-se um CLÃ. Da formação dos Clãs sobrevieram disputas por ambições de poder.

Mas a ORDEM exigia um LÍDER, e fruto do mais puro pensamento inconsciente, o membro MAIS VELHO assumia este papel. E é deste Mais Velho que se enumerava as gerações da Tribo e do Clã.

.Esta é a primeira Verdade Visceral do homem: a Genealogia. A Bíblia, em seu primeiro livro, assim o fez, e valoriza um Valor que se repete e se legitima a partir dos costumes observados nos levantamentos efetuados pela UNESCO entre os grupos africanos. Não é coisa nova, e nem conclusão impressionante, e sim algo que acontece naturalmente.

A força deste VALOR TRIBAL é tão forte que existe uma cadeia lógica dentro dos inumeráveis grupos humanos da África:

Família => Linhagem
Linhagem => Clã
Clã => Estado
Estado => Chefe
Chefe => deus
O chefe era considerado o intermediário entre o Clã e o deus LOCAL (o deus pertencia ao Clã), a tal ponto que ele mesmo era considerado um deus.

O africanista brasileiro Alberto Costa e Silva, em uma de suas vivências como embaixador na Nigéria, conta, em palestra organizada pela Companhia das Letras (editora), que um de seus subordinados da embaixada se ausentou do trabalho por um período que se pode perceber. Então ele perguntou a um funcionário o que era feito do subordinado, que não estava vindo trabalhar. Este funcionário, africano, lhe respoindeu:

"Ele foi se tornar um deus. O pai, chefe de uma tribo do interior morreu, e os seus familiares lhe cobraram esta responsabilidade, e ele foi".

Ou seja, aquele pai era o "deus" da Tribo. Na sua falta, pela genealogia, o filho tinha que assumir o lugar do pai, pela razão principal de que, na falta do chefe, eles perderam o contato com o deus da Tribo. Algo deste tipo é sensacional, pois demonstra uma face dos cultos antigos e da adoção de divindades, bem como sua forma de relacionamento com os humanos.

No Brasil, deu-se um fenômeno "sui generis" em relação aos deuses africanos e a este caráter local. Os conhecidos deuses do Candomblé de tribais, passaram a deuses globais, pois os agrupamentos maioritários, escravizados, trouxeram o seu deus Tribal, e os demais indivíduos, membros arrancados de seus grupos originais, adotaram os deuses do grupo mais numeroso. Foi a primeira corrupção do sentido do deus Tribal, deflagrada pelo elemento pernóstico europeu.

A cronologia Oral

A enumeração dos ancestrais, que no caso africano se aproxima de uma genealogia de deuses (você ocidental, pode estar achando que são simplesmente os pais de cada família), se fazia de forma sonora e ritmada, como numa cantoria rimada, para que pudesse ser firmemente decorada.

Numa sociedade sem escrita, a memória se desenvolve de maneira prodigiosa. Estas genealogias são cantadas para os meninos, e eles as repetem incansavelmente, tantos nas reuniões periódicas, quanto durante o seu dia de brincadeiras.

Particularmente entre os negros, esta capacidade aflora em seus três estilos de linha musical, bem conhecidos: o Blues, o Happy e o Funk. No Funk e no Happy, o elemento narrativo fica evidente. O impressionante é ter sobrevivido no inconsciente dos negros até hoje. O Blues, que tem sua origem nos campos de algodão dos estados sulistas americanos, é uma manifestação que evidencia este elemento, como um lamento narrativo das agruras dos negros em sua labuta forçada.

O caso Bíblico

No caso das genealogias bíblicas, fica bem clara a diferenciação do povo hebreu em relação aos povos vizinhos. Eles NUNCA COLOCAVAM UMA PESSOA NO LUGAR DE DEUS, quem falava por Deus eram os profetas, que não eram chefes nem nada, mas eram respeitados. E isto é fantástico em sua pureza, em mostrar que existiam homens que sabiam separar as coisas. Os próprios profetas nomeavam os CHEFES, e isto é fantástico mais uma vez. Quem disse ao povo hebreu para não copiar os povos vizinhos. Por que foram os únicos ?

Conclusão

Estes argumentos mostram a força da Tradição Oral, não só mpelos mecanismos naturais e humanos envolvidos e evidenciados, mas pela sua associação a elementos das raízes dos grupos humanos. Entendendo as primeiras sublimações construídas pelos homens da divindade, podemos entender sua busca por ela, e pretender entender como Deus se relaciona com o Homem. Isto se pode explorar através da História Universal Completa, ou seja, sem a maquiagem distorcedora dos ocidentais racistas, e sem a desvalorização promovida em favor de registros escritos, e em detrimento da valorosa Tradição Oral
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Leia mais em História da África (8 volumes) editado pela UNESCO, Volume I, Capítulo 7 de J. Vansina.



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