sábado, 9 de abril de 2016

John Locke e o entendimento da Bíblia

Formação Filosófica do Brasileiro

É risível, digna de dó e inócua ou inexistente a formação filosófica do brasileiro, e pior, mesmo os que pertencem às camadas abastadas da população.
A maior parte dos conhecimentos de filosofia vem da disciplina História, no ensino médio. Mas sendo considerado assunto aborrecido, ou mesmo dispensável, estes conhecimentos são imediatamente esquecidos após o vestibular. Os únicos estudantes que guardam em sua memória tais conhecimentos são justamente os de filosofia.

Auto-ajuda como filosofia

Sendo o conhecimento formal de filosofia tão execrado, por ser considerado "aborrecido e dispensável", digere-se aquilo que é mais fácil: conhecimentos de auto-ajuda. Pasmem, mas esta é a espécie de conhecimento de senso-comum que se tornou o substituto enganoso da verdadeira filosofia.
A prova são os números e cifras das vendas de livros de auto-ajuda nos últimos 20 anos. E a sua propagação foi o tradicional boca-a-boca, sempre que um deprimido pedia ao colega, ao vizinho, ao irmão ou talvez ao companheiro de banco no ônibus.

Novelas como fundamento filosófico

Se ficou assustado com o tópico sobre auto-ajuda, ficará em pânico ao constatar que as pretensas lições de vida de novela substituíram o conhecimento filosófico. Querem a prova ? De quantas pessoas você já ouviu a desgastada expressão:

O importante é ser feliz.

Esta foi a expressão que justificou milhares de separações entre casais.

A novela é uma forma extremamente cômoda e aparentemente legalizada de veiculação de conhecimentos. Principalmente se for da Rede Globo. Por estarem na boca de artistas considerados ídolos e pessoas absolutamente idôneas, os conhecimentos fornecidos pelas novelas vem com um aparente Certificado de verdade. Uma pena, uma lástima, mas é isto que acontece.

John Locke

Este filósofo é completamente ignorado. Algumas poucas pessoas em cada milhar de cidadãos conhecem Sócrates e Pitágoras. Mas John Locke, nem pensar. Podem conhecer Karl Marx, Adam Smith, mas Locke não.

E é interessante, ao ler este filósofo, que muitos dos erros de entendimento já estavam explicitados em sua obra, nos anos 1680 e 1690. E hoje, século XXI, assistimos estarrecidos discursos absolutamente desprovidos dos mais básicos requisitos do entendimento comentados por Locke. A escola, a sociedade e a mídia são, inequivocadamente, os culpados por este estado de coisas.

Vejam a recomendação BÁSICA de Locke no trato dos assuntos por parte de nosso entendimento:

"Usar de mais cautela, quando nos envolvermos com certas coisas que excedem a nossa compreensão, parar quando o assunto é muito extenso para as nossas forças e permanecer em silenciosa ignorância acerca destas coisas cujo exame revela estarem fora do alcance de nossas capacidades".

Isto se assemelha, em grau maior no entanto, aos conselhos de nossos pais, que recomendam não falar demais, e mais ouvir do que sair externando opiniões precipitadas. Os orientais também dizem que a palavra é de Prata, mas o silêncio é de Ouro. O russo Ivan Panim diz que o homem deve ser como um sino, só emitindo som quando for tocado. E, para quem não entender, basta citar que os sinos dos mosteiros por vezes precisam de dois monges para conseguir mover o badalo, tal é o seu peso.

No caso bíblico

O que se poderia dizer dos assuntos abordados pela Bíblia ? Ali temos os temas da própria vida, e da ressurreição. Poderiam estes temas ser desenvolvidos com base no senso comum, como se dá no tradicional "papo de buteco" ?

Sobre isto, acrescenta John Locke:

"Se o nosso entendimento for prejudicado pela nossa presunção de um Conhecimento Universal (senso comum) estaremos sendo precipitados, e então entraremos em disputas sobre coisas para as quais nossos Entendimentos NÃO SÃO ADEQUADOS, e das quais não podemos formar em nossas mentes nenhuma percepção clara e distinta".

Sábio conselho. Ignorando este, pessoas precipitadas dizem, sem entender, que milagres são impossíveis. Estão simplesmente se baseando nos princípios físicos descobertos ATÉ AGORA. E por quem descobertos ? Por cientistas humanos. Os mesmos cientistas que acreditavam, até 1943 que o átomo era indivisível. E no dia seguinte, nos internatos de orientação americana no Brasil, as professoras mandaram os alunos substituir a palavra "indivisível" por "divisível".

Se um cientista tem o seu entendimento travado pela descrença em milagres, ele nunca poderá estudar um fato milagroso. É como um carro que tenta se movimentar com o freio de mão acionado. No entanto, os médicos de CTI, quando não tem nada o que fazer em termos de sua ciência primitiva, permitem a entrada de missionários de qualquer religião. E quando o paciente desenganado sai curado, eles ficam com "cara de paisagem", pois não se aconselharam com John Locke.

Um Exemplo extremo

No âmbito da Bíblia, vamos citar um fato ocorrido logo no início dos tempos: o engano da serpente. Os chamados ateus usam este evento para dizer que a Bíblia é um livro onde "cobras falam". Nesta afirmação existe a conversão de serpente, animal para nós desconhecido, para cobra. Pelo que é sugerido na Bíblia, a serpente era completamente distinta da cobra, pois perdeu seus membros. Indubitavelmente a tal serpente tinha membros, pois NÃO ANDAVA SE ARRASTANDO até ter enganado a mulher Eva.

O que citamos denota um dos principais problemas do entendimento: o foco excessivamente centralizado.

O segundo vem na dimensão de tempo. Todo fato tem Tempo e Local. Não temos nenhuma ideia da capacidade de emissão de sons compreensíveis, seja pela tal serpente, seja por qualquer animal. O fato deles não falarem HOJE, não é segurança absoluta que já não tivessem falado NO PASSADO.

Vamos citar o caso das verdades geológicas. Nos dias de HOJE, pelo menos, nunca ouvimos alguém testemunhar o nascimento de uma cadeia de montanhas. No Brasil não existem terremotos. Foi SEMPRE assim ? Portanto, desprezar a dimensão de tempo na análise dos fatos é o que Locke classifica de "presunção do Conhecimento Universal". O fato de algo ser ou acontecer de uma forma HOJE não é prova concreta de que SEMPRE será ou acontecerá do modo que é observado HOJE. Isto é usar o Senso Comum ATUAL para substituir e interpretar os fatos SEMPRE.

Um dia, pelo passar dos tempos, o campo magnético terrestre pode diminuir, e tanto que poderá alcançar valores desprezíveis, modificando os resultados científicos, portanto não podemos falar em SEMPRE nem para o caso da ciência.

Conclusão

Se você não buscar o entendimento com isenção e abertura, sem as ideias do senso comum, será um eterno ignorante.



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