quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nietzsche, arrogância dos filósofos - Parte II

Antes de ler o trecho abaixo, pense na função dos filósofos na sociedade.

Eles devem ser os observadores e críticos de seu tempo, apontando as falhas, orientando o pensamento do seu tempo, e sugerindo, não explicitamente, mas por intermédio de suas conclusões, novas posturas. Além disso, eles devem sempre voltar às fontes da filosofia (os antigos), que de pouca experimentação produziram tanto pensamento.

Até um simples escritor de ficção é um filósofo, pois inevitavelmente apresenta em sua obra, a sua visão do mundo.

Em primeiro lugar ele "empacota" ou "coloca num mesmo saco" TODOS os filósofos, dizendo que se enganam com facilidade e repetidamente.

Para respeitar os filósofos, vamos obrigatoriamente citar Sócrates. Quem poderia ser maior que ele ? Quem aceitou suprimir a própria vida para não se afastar das verdades que propunha ? Quem teve a coragem de dizer: "conhece-te a ti mesmo". Sócrates e os filósofos gregos de sua época, inclusive Demócrito, não tinham o aparato científico e o cabedal antropológico e arqueológico de que Nietzsche dispunham, e superaram os horizontes científicos de dedução apenas com "experiências e simulações mentais". Demócrito estabeleceu as bases da teoria atômica sem sequer dispor de um laboratório. Seu laboratório era a sua mente.

Por isto podemos, sim, classificar o comportamento de Nietzsche com o de um arrogante de último grau, em primeiro lugar pelo seu discurso, e nos demais pelo que vamos constatar ao longo deste trabalho.

Por não se conhecer direito, é que Nietzsche enveredou pelo caminho escuro da loucura.

Como poderia Nietzsche negar a todos eles, dizendo que as ideias por eles proferidas eram "afirmações arbitrárias, caprichos, intuições ou desejos íntimos" ? Sabe que tipo de ser faz isto ? Todo ser humano. Ninguém consegue se desligar de suas manifestações internas para proferir alguma coisa. A psicologia afirma que quando alguém fala alguma coisa está, de alguma forma, mesmo que subliminar e distante, FALANDO DE SI MESMA.

Como veremos mais a frente no estudo deste alemão, quem se mostrará "rebuscado e empírico" é ESTE do qual estamos falando.

Crítica a Kant e Spinoza

Kant (1724 a 1804) é também um filósofo alemão, que viveu anos antes de Nietzsche (1844 a 1900, a época interessa em termos de visão filosófica), portanto em um contexto bem parecido. A primeira grande guerra viria anos após a morte de ambos.

Kant escreveu nada mais nada menos que "Crítica da Razão Pura", um marco da filosofia. A parte que mais deve ter ferido Nietzsche é a que se refere à existência baseada numa fé (não necessariamente a religiosa). Para o ateu Nietzsche, isto equivalia a uma declaração de guerra se o declarante estivesse vivo, ou ao desejo de vilipêndio caso o declarante estivesse morto.

Vejam só, o sistema filosófico de Kant foi tão bem concebido (se o leitor quiser pode ler o livro citado), que Hegel e Schopenhauer, dois "monstros" da filosofia, desenvolveram o sistema de Kant. Ele recebeu elogios de Lord Kelvin, como tendo sido beneficiado pelos seus princípios filosóficos em trabalhos de termodinâmica. Para quem não sabe, Kelvin empresta seu nome à uma escala de temperatura que estabeleceu o zero absoluto, estado onde não existe energia intrínseca em um sistema fechado.

Nietzsche se irrita com o dizer de Kant, de que NÃO TEMOS CONTATO DIRETO COM O MUNDO, mas somente através dos sentidos. Isto já é fruto de estudos científicos sobre o Cérebro, que chegaram à conclusão de que O CÉREBRO É O MELHOR SIMULADOR DA REALIDADE. Kant, imaginem só, antecipou uma verdade CIENTÍFICA antes da sua comprovação experimental. Neste particular ele se compara a Einstein, que também teve suas teorias comprovadas muitos anos depois durante um eclipse. Se alguém dissesse a Nietzsche que a LUZ FAZ CURVAS, ele teria um acesso de cólera, e ficaria louco muitos anos antes do que realmente se deu em sua vida.

Se Nietzsche estivesse certo, o ser humano, no caso do sentido da visão, enxergaria não só o espectro das cores, mas também o infra-vermelho e o ultra-violeta. E mais, o homem perceberia visivelmente as radiações desde os raios X até os raios gama. Ou seja, Kant foi extremamente visionário em relação às neurosciências, mais do que o estressado Nietzsche.

Spinoza foi um filósofo judeu (1632 a 1677). O ponto que vai agredir Nietzsche é o determinismo que vai contra a pregação do livre arbítrio do alemão e a dualidade bem e mal com a presença do cristianismo, que aliás não é tão bem exposto, como veremos mais tarde.

O grande perigo que Nietzsche colocou para a humanidade, ao criticar a Ética de Spinoza,  foi a sandice da concepção de um "super-homem que estivesse acima do bem e do mal", um que não fosse dependente da religião, pois este tipo, para ele, era como um ESCRAVO. E neste transe, ele inspirou pessoas de pouca ou nenhuma personalidade, e a consequência foi o Nazismo e os vários genocídios cometidos pelos alemães e russos. Mais tarde os genocídios na África e Balcãs.

Depois de nos familiarizarmos com os "acusados", colocamos a crítica do alemão.


Veja o primeiro capítulo da crítica:

Os senhores me perguntam o que são todas as idiossincrasias dos filósofos?... Por exemplo, sua falta de sentido histórico, seu ódio contra a representação mesma do vir-a-ser, seu egipcismo. Eles acreditam que deshistoricizar uma coisa, torná-la uma sub specie aeterni, construir a partir dela uma múmia, é uma forma de honrá-la. Tudo o que os filósofos tiveram nas mãos nos últimos milênios foram múmias conceituais; nada de efetivamente vital veio de suas mãos. Eles matam, eles empalham, quando adoram, esses senhores idólatras de conceitos. Eles trazem um risco de vida para todos, quando adoram. A morte, a mudança, a idade, do mesmo modo que a geração e o crescimento são para eles objeções – e até refutações. O que é não vem-a-ser; o que vem-a-ser não é... Agora, eles acreditam todos, mesmo com desespero, no Ser. No entanto, visto que não conseguem se apoderar deste, eles buscam os fundamentos pelos quais ele se lhes oculta. “É preciso que uma aparência, que um ‘engano’ aí se imiscua, para que não venhamos a perceber o ser: onde está aquele que nos engana?” “Nós o temos, eles gritam venturosamente, o que nos engana é a sensibilidade! Esses sentidos, que por outro lado são mesmo totalmente imorais, nos enganam quanto ao mundo verdadeiro. Moral: conseguir desembaraçar-se do engano dos sentidos, do vir-a-ser, da história, da mentira. História não é outra coisa senão crença nos sentidos, crença na mentira. Moral: dizer não a tudo o que nos faz crer nos sentidos, a todo o resto da humanidade. Tudo isso é o “povo”. Ser filósofo, ser múmia, apresentar o "monótonoteísmo" [expressão para representar o monoteísmo monótono] através de uma mímica de coveiros! – E antes de tudo para fora com o corpo, esta idée fixe dos sentidos digna de compadecimento! Este corpo acometido por todas as falhas da lógica, refutado, até mesmo impossível, apesar de ser suficientemente impertinente para se portar como se fosse efetivo!”...

Repare na crítica às "formulações da filosofia a partir de percepções do sentido". O leitor consegue se imaginar fora de seu corpo para raciocinar sobre o mundo que o circunda. Ele já começa seu livro fazendo ataques, colocando conclusões antes das explanações. É como o pregador, que ao invés de falar de Deus, começa atacando o diabo.

Ao atacar os filósofos, ele se esquece de que Sistemas de Governo e a Ciência foram construídos com base em sistemas filosóficos. É preciso também ter em mente que nesta época, na Alemanha, já se falava em discursos fortalecidos por uma tática gestual. O estudo do gestual para o teatro já era corrente na Alemanha. Tanto que, em 1920, nada menos que Hitler já os incorporaria em seus discursos como tática de convencimento.

E Nietzsche já escrevia como se estivesse gesticulando, daí dar a seu discurso tom tão agressivo.

Nietzsche acusa, mas não demonstra. Não é técnico, é passional. Não é expositivo, é agressivo. E iniciar um trabalho, criticando os outros, é uma péssima maneira de tentar angariar credibilidade.

Maiores detalhes desta "briga" estão em "Crepúsculo dos Ídolos - Aforismas I a IV".

Continuação

Continuaremos a partir do item 6 deste livro citado ("Além do Bem e do Mal").


2 comentários:

  1. Sei que não vou ser respondido por causa da negatividade que ha nesse texto pérfido. Mas para você conhecer Nietzsche precisa bastante ler a todos os livros e influência dele, até mesmo a vida dele. Citar Sócrates e Nietzsche para explicar que seu texto tem alguma razão é um erro gravíssimo, pois ambos viveram em tempos diferente e sua perspectiva de ver as coisas também foram diferentes e fundamentais para a criação de seus textos e obras. Nietzsche teve a influência de Schopenhauer e ele cita isso em seus escritos. Nietzsche nunca se disse ateu e acho que não se julga alguém por ser ateu so porque ele nega a fé; e não é correto pegar textos isolados para tentar inferiorizar a este grande Filósofo, que por sinal não vai ser inferiorizado por que os textos dele te faz sumir.

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  2. on the soul, se você realmente está na alma, deveria compreender melhor esta análise detalhada do texto de Nietzsche (o poeta louco, diga-se de passagem), em que salta aos olhos uma das características mais marcantes deste talvez sociopata.
    Dizem que o defeito que você mais detecta nos outros é justamente aquele que você carrega de forma invisível (para você mesmo). No caso, é justamente a ARROGÂNCIA. E coincidentemente é este mesmo defeito que você fez aparecer aqui.
    Mas vamos ao comparativo entre o que é exposto, e seu comentário.
    Você não sabe se o autor do post leu um ou todos os livros de Nietzsche. Se leu todos, expressa uma opinião com base total. Se leu só este, ou até somente esta parte, basta você recorrer ao fundamento da psicoterapia e da psicanálise, que diz:

    Quando se fala sobre algo, o indivíduo quase sempre fala de si mesmo.

    Quando Nietzsche expõe suas opiniões estapafúrdias, está falando dos elementos de seu próprio universo semântico, como o fez outro louco, desta vez pintor, Vincent van Gogh.

    Vou a outro ditado muito frequente entre os entrevistadores de larga experiência, que, de tanto tratar com o ser humano, dizem:

    Basta conversar com uma pessoa 5 minutos prá saber "qual é a dela".

    Se teve ele influência de um ou de outro, não importa, pois o elemento mais constante de Nietzsche é a sua loucura e arrogância.

    E quanto a ele ser ateu (parâmetro apresentado em sua frase mal feita "não se julga alguém por ser ateu so porque ele nega a fé"), isto diz muito a respeito de sua tendenciosidade indigna de um filósofo, pois até um ateu na TV proferiu a sábia frase:

    "Se eu garantir que Deus não existe, estarei sendo louco"

    Isto porque nenhuma pessoa pode tecer comentários categóricos sobre um reino sobre o qual mortais não tem o menor domínio. Ou seja, afirmar que Deus existe ou não está fora da esfera humana.

    E sugiro a você estudar um pouco de português, para ajustar sua concordância.

    Lamentável.

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